Saturday, March 24, 2007

POST SERENO

CINE-TUGA: “Arrependido?”, o segundo filme aqui publicado, tem qualquer coisa de expiatório…Rio Turvo é um filme habitado pela culpa?

Edgar Pêra: poderia contestar uma frase tão banal, mas há que dizê-lo com frontalidade: Sim.

CINE-TUGA - Podes desenvolver?

Edgar Pêra (inesperadamente jovial). Rio Turvo lida com medos e fantasmas contemporâneos. A páginas tantas Branquinho da Fonseca escreveu…(pega num caderno e lê) “Por coisas que não valem a pena, tenho arriscado a vida, por outras que deviam impor-me decisões heróicas, tenho ficado indiferente. Como não sou cobarde, nem fraco de vontade, não sei explicar isto com a clareza conveniente. São questões que atormentam a consciência de qualquer pessoa. “

CINE-TUGA: Que tenha consciência. ..

Edgar Pêra: Rio Turvo é um retrato dessa indiferença trespassante. Há uma cena capital no filme que recorre a parte desse texto do Branquinho, em que o protagonista tem de decidir se é homem ou macaco, se é cíníco ou é cobarde, de que matéria é feito afinal…
É preciso “ distinguir as coisas pelas quais vale a pena erguer o braço e aquelas que tanto faz que sim ou tanto faz que não.”

CINE-TUGA - Mas a cena a que te referes é substancialmente diferente no conto…

Edgar Pêra - (deixa cair o cadernito) Espero bem que sim!

CINE-TUGA: …Esperas?

Edgar Pêra: As mesmas questões colocadas de forma diferente. Tormentas e desesperanças condensadas. Uma “lassidão dormente” que se instalou…

CINE-TUGA:: O cinema enquanto despertador?

Edgar Pêra– Indutor.

CINE-TUGA: Este último filmezito também recorre ao habitual clichê da fechadura. Rio Turvo é um filme de clichês?

Edgar Pêra (procurando refrear-se): Tem alguns. Estava na altura de lidar com a besta.

CINE-TUGA: Vês então o cinema como uma espécie de toureio.

Edgar Pêra: O cinema emocional obriga a uma certa coragem para enfrentar lugares comuns. Mas nunca estive parado, nem à espera que fizessem o meu caminho.

CINE-TUGA (aos pulos em cima da cadeira) - Quer dizer que resolveste enfrentar a tua propria cobardia?

Edgar Pêra (sereno) - Quer dizer que “como não sou cobarde, nem fraco de vontade, não sei explicar isto com a clareza conveniente.”

1 comment:

Anonymous said...

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