Friday, March 30, 2007

POSTEODOLITO

CINE-TUGA (armadilhado) : Achas que Rio Turvo é um filme para todos os públicos?

Edgar Pêra: Não sei se isso existe. Geralmente não vejo esses filmes, logo não são para todos. Logo, não existem filmes para todos. Mas também nunca fiz um filme a pensar que estava a rejeitar algum “género” de espectador. Se um pintor não fôr figurativo não quer dizer que esteja a rejeitar o público. O cinema tem mais dificuldade em afirmar-se fora da ilustração narrativa.

CINE-TUGA: É um filme difícil?

Edgar Pêra: De fazer.

CINE-TUGA (jornalístico): Como foi a rodagem de Rio Turvo?

Edgar Pêra: Cheia de moscas, melgas e mosquitos.

CINE-TUGA: Quanto tempo durou? etc…

Edgar Pêra: Três semanas. O Luís Branquinho dirigiu uma equipa de estagiários de imagem da Universidade Lusófona. O som foi captado por finalistas da Escola de Cinema.

CINE-TUGA: Houve um conflito entre metodologias das diferentes escolas?

Edgar Pêra: Não. Antes pelo contrário, complementaram-se. Mas digamos que a minha metodologia causa sempre alguns problemas à produção. Tomo decisões em cima do momento, que alteram o mapa de trabalho.

CINE-TUGA (condescendente): Pois…

Edgar Pêra: Mas nada que se compare com outros filmes. Este teve realmente um mapa por onde nos podíamos orientar. Graças ao conto….

CINE-TUGA (professoral): Qual a função da topografia no filme?

Edgar Pêra (pragmático): Relativa. Recorremos a material quase de museu, cedido pelo departamento topográfico da Cãmara da Azambuja, e o responsável pelo departamaento acompanhou o início das rodagens de forma a que o Nuno melo soubesse manipular o teodolito e dar instruções aos apontadores.

CINE-TUGA: Teodolito? ( pensamento tuga: Isso mais parece uma canção suíça…e começa a cantarolar mentalmente “ teodoli-I-ô!…..”)

Edgar Pêra: Teodoloito, instrumento de medição mecânico-óptico. Estranho é que não dei conta de imediato que o teodolito é como se fosse uma câmara, logo o protagonista é uma espécie de homem-câmara.

CINE-TUGA: Consta que houve uma certa rivalidade entre o Nuno Melo e o teodolito (sorriso gozão).

Edgar Pêra (disfarçando uma gargalhada): O Nuno não estava interessado numa representação baseada na profissão da personagem. Em última análise, nem sequer sabemos se o protagonista do filme foi topógrafo. O seu passado é bastante mais misterioso do que no conto. E daí talvez não.

CINE-TUGA: Mais uma traição é tradição…

Edgar Pêra (ignorando-o olimpicamente): De toda a investigação para os comportamentos e diálogos topográficos sobrou apenas uma expressão curiosa: “Verticaliza!”

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