Thursday, April 19, 2007

कोन्देंसदो

CINE-TUGA: Esta é uma longa-metragem particularmente curta.

Edgar Pêra: 77 minutos. Mais ou menos.

CINE-TUGA: Não se passa tudo demasiado depressa?

Edgar Pêra: Não. As primeiras montagens de Rio Turvo tinham mais de duas horas. Depois apercebi-me que para criar o ambiente que pretendia não necessitava de "cenas de ambiente", intercaladas com "cenas dramáticas". O ambiente está em todo o filme não nas cenas intercalares, que fui reduzindo drasticamente até chegar a esta versão condensada.

CINE-TUGA(poético): É uma espécie de cine-chuva que desagua no rio turvo?

Edgar Pêra: Não faço ideia.

CINE-TUGA: Mas não ficas com remorsos de perder sequências da natureza lindíssimas?

Edgar Pêra: Não me parece que o cinema precise de uma acumulação de riquezas visuais.

CINE-TUGA: Não queres ser tomado por um cine-novo-rico... Não renegas a luta contra o audiovisionismo dos tempos do Independente portanto.

Edgar Pêra: Nessa altura era fundamental para mim lutar contra a estética do plano fixo, da ditadura do enquadramento e do som directo. Tive de me afastar da metodologia audiovisonista europeia. Hoje em dia já me sinto à vontade para viajar entre diferentes territórios.

CINE-TUGA: Sem medo de perder a tua cine-identidade em países de língua estrangeira?

Edgar Pêra: Não sinto que a "minha" identidade se tenha calcificado. Quase todos os emus filmes partem de uma colaboração intensa. Com Rio Turvo parti de uma narrativa literária, o território pertence a outro autor. E a Natureza, antes de ser filmada, também não não me pertence. Só quando cheguei à montagem é que senti liberdade para alterar a estrutura e até o sentido original de certas frases. Só depois de definida a estrutura é que pude realmente olhar para o filme como algo criado por mim. E só depois de introduzida a voz do narrador é que avancei para a condensação das ideias. Plásticas, dramáticas, etc...

CINE-TUGA: O teu cinema como fenónemo de condensação?

Edgar Pêra: Neste caso particular do Rio Turvo não se tratava de acumular o máximo de informação no mínimo de tempo. Com o Rio Turvo condensei emoções. Adequando-as à duração e ao ritmo que a narrativa me "pedia".

CINE-TUGA: Tens medo de aborrecer os espectadores?

Edgar Pêra: Tenho medo de me aborrecer.

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