Monday, April 30, 2007

ANTEONTEM

Cine-Tuga: A sessão de sábado no festival indie parece que correu melhor.

Edgar Pêra: É verdade. O som já não distorceu. Se bem que essa segunda projecção não fez jus à esplendorosamente soturna cine-fotografia do Luís Branquinho. Era uma cópia beta sp cheia de drops…O que acabou por lhe dar uma certa patine. Pareceu até que o filme já tinha sido exibido vezes sem conta, desgastado por ininterruptas projecções…

Cine-Tuga: É um bom augúrio?

Edgar Pêra: Talvez. Ainda não temos data de estreia. Ainda faltam as misturas dolby, a correção final das cores…

Cine-Tuga: Muitas alterações em perspectiva?

Edgar Pêra: Por enquanto não. Mas se o filme ficar na prateleira uns meses…

Saturday, April 28, 2007

HOJE

Cine-Tuga: Rio Turvo é o primeiro filme de verdadeira colaboração com outro autor….

Edgar Pêra: Não me parece. Quase todos os meus filmes dependem em maior ou menor grau da colaboração com outros artistas/autores/pensadores: Cassiano Branco (A Cidade de Cassiano), Almada Negreiros (SWK4), Paulo Borges, Agostinho da Silva (O Trabalho Liberta?), Terence Mckenna, Robert Anton Wilson, Rudy Rucker (Manual de Evasão LX94), Isabel Barreno (O Mundo Desbotado) Fenando Pessoa (Zombietown 23), Lúcia Sigalho, Manuel João Vieira (A Janela- Maryalva Mix), João Garcia Miguel, Nuno Melo (Homens-Toupeira), Alberto Pimenta (Fiquem Qom A Qultura…), Carlos Paredes (Movimentos Perpétuos) e agora Branquinho da Fonseca!
Isto para não falar de todos os actores, que geralmente são lançados à arena sem guião-arpão.

Cine-Tuga: Têm de se denvencilhar com os leóes do improviso e os gladiadores da….

Edgar Pêra (interrompendo-o bruscamente): Dispensamos a “poesia” interpretativa…

Cine-Tuga (vingativo): parce que a sessão do Indie não correu como esperavas…

Edgar Pêra (cabisbaixo): É muito difícil fazer uma projecção-vídeo decente em grandes salas de cinema…(inesperadamente humilde) Espero que hoje corra melhor. Queria agradecer a todos aqueles que com santa paciência ouviram o filme naquelas condições…

Cine-Tuga (reconciliador): E mesmo assim conseguiram navegar neste Rio Turvo.

Edgar Pêra (vingativo) : Corta lá com a poesia de pacotilha…

Etc. etc..etc…

Thursday, April 26, 2007

होजे एस्त्रेइया नो इन्दिएलिस्बोअ

CINE-TUGA (assobiando): Então hoje é o dia da estreia de Rio Turvo no IndieLisboa...

Edgar Pêra (ensonado): Simmm...

CINE-TUGA (ensonso):O filme está pronto claroooo...

Edgar Pêra (agitado): Só estreia daqui a 18 horas.

CINE-TUGA (indignado): Preocupado?

Edgar Pêra (sereno): Ocupado.

Thursday, April 19, 2007

कोन्देंसदो

CINE-TUGA: Esta é uma longa-metragem particularmente curta.

Edgar Pêra: 77 minutos. Mais ou menos.

CINE-TUGA: Não se passa tudo demasiado depressa?

Edgar Pêra: Não. As primeiras montagens de Rio Turvo tinham mais de duas horas. Depois apercebi-me que para criar o ambiente que pretendia não necessitava de "cenas de ambiente", intercaladas com "cenas dramáticas". O ambiente está em todo o filme não nas cenas intercalares, que fui reduzindo drasticamente até chegar a esta versão condensada.

CINE-TUGA(poético): É uma espécie de cine-chuva que desagua no rio turvo?

Edgar Pêra: Não faço ideia.

CINE-TUGA: Mas não ficas com remorsos de perder sequências da natureza lindíssimas?

Edgar Pêra: Não me parece que o cinema precise de uma acumulação de riquezas visuais.

CINE-TUGA: Não queres ser tomado por um cine-novo-rico... Não renegas a luta contra o audiovisionismo dos tempos do Independente portanto.

Edgar Pêra: Nessa altura era fundamental para mim lutar contra a estética do plano fixo, da ditadura do enquadramento e do som directo. Tive de me afastar da metodologia audiovisonista europeia. Hoje em dia já me sinto à vontade para viajar entre diferentes territórios.

CINE-TUGA: Sem medo de perder a tua cine-identidade em países de língua estrangeira?

Edgar Pêra: Não sinto que a "minha" identidade se tenha calcificado. Quase todos os emus filmes partem de uma colaboração intensa. Com Rio Turvo parti de uma narrativa literária, o território pertence a outro autor. E a Natureza, antes de ser filmada, também não não me pertence. Só quando cheguei à montagem é que senti liberdade para alterar a estrutura e até o sentido original de certas frases. Só depois de definida a estrutura é que pude realmente olhar para o filme como algo criado por mim. E só depois de introduzida a voz do narrador é que avancei para a condensação das ideias. Plásticas, dramáticas, etc...

CINE-TUGA: O teu cinema como fenónemo de condensação?

Edgar Pêra: Neste caso particular do Rio Turvo não se tratava de acumular o máximo de informação no mínimo de tempo. Com o Rio Turvo condensei emoções. Adequando-as à duração e ao ritmo que a narrativa me "pedia".

CINE-TUGA: Tens medo de aborrecer os espectadores?

Edgar Pêra: Tenho medo de me aborrecer.

Wednesday, April 11, 2007

ESTRANHA FORMA DE POST

CINE-TUGA: Em que estado se encontra o Rio Turvo?

Edgar Pêra: Amanhã de manhã começa a “correccão” de cor e à tarde as proto-misturas de som.

CINE-TUGA (inchado de preocupação): Proto-misturas porquê? Isso cheira-me a mais um remix.

Edgar Pêra: Só faremos as misturas Dolby quando estiver garantida a distribuição. É uma pipa de massa!!! Ainda estamos à espera de apoio para passar de HD para 35mm. Mas o filme já se pode ver. E ouvir. Os festivais também servem para testar e acertar pormenores antes do filme estrear “comercialmente”.

CINE-TUGA: Poquê as aspas?

Edgar Pêra: Porque nunca vi nem escudos nem euros provenientes de bilheteiras. Os filmes funcionam apenas como uma espécie de eterna forma promoção do próximo filme.

CINE-TUGA: Como se vive então do cinema?

Edgar Pêra: Não se vive do cinema, vive-se para o cinema.
Na esperança que o cinema seja uma forma de vida.

Sunday, April 8, 2007

VIDEOPOSTA

CINE-PHILIO: Rio Turvo foi filmado em vídeo de alta definição. Não é uma espécie de traição?

Edgar Pêra: Estou expectante. Era impossível rodarmos em película. Não havia dinheiro para isso. Assim tivemos mais liberdade, ams não demasiada como há quando se filma em mini-dv. Foi o Luís Branquinho que sugeriu a Halta Definição e não estou arrependido. Não quer dizer que vá fazer o próximo filme em HD.

CINE-PHILIO: Quando começaste a utilizar o vídeo nos teus filmes?

Edgar Pêra:Acho que em 1985 videoclip Dunas, dos GNR.

CINE-PHILIO (atónito): Mas se era um vídeo…

Edgar Pêra: Mas foi rodado em película (16 mm reversível). As partes rodadas em vídeo eram depois refilmadas em película.

CINE-PHILIO: Mas o primeiro filme rodado em vídeo a passar nas salas de cinema qual foi…

Edgar Pêra: Foi logo o primeiro. Reproduta Interdita(1990) já tinha um genérico filmado em vídeo mas Matadouro (1991) foi rodado integralmente em vídeo. Depois filmei um monitor com a montagem vídeo e remontei em 35 mm. Foi assim que comecei a fazer os meus filmes. Se ficasse á espera…talvez ainda estivesse á espera…è preciso notar que existiam muitos preconceitos na época contra o vídeo. Era considerado pela maior parte dos cineastas e cinéfilos como um meio bastardo.

CINE-PHILIO: Qual a principal diferença entre filmar com vídeo e película? O custo? ou a forma?

Edgar Pêra: O custo. Existem câmaras de 35mm que permitem filmar com a mesma mobilidade. Não me preocupo tanto com a “qualidade” da imagem. Ou antes, até acho que lhe dou grande relevância, só que não discrimino nem subvalorizo.

CINE-PHILIO: Ou seja, não estabeleces uma hierarquia de meios. Super 8 e 35mm têm a mesma importãncia.

Edgar Pêra: Não. Os resultados são completamente diferentes. Há que adaptar às circunstãncias. Também não vou fingir que estou a filmar em película quando rodo em vídeo. São meios de trabalho diferentes. O meio de exibição é o mesmo. Cinema. Por vezes confundem-se meios. Mas isto é conversa antiga. Já deveria estar resolvida. Infelizmente ainda hoje se faz muita confusão. Entre vídeo analógico e digital entre vídeo e televisão, etc. E confundem-se os meios de captação da realidade (película video telemóvel. Etc.) com os meios de exibição (cinema, net,televisão etc).

CINE-PHILIO: Hoje estás muito pedagógico…Gostas de dar aulas?

Edgar Pêra: Nem por isso. Mas não gosto de reter informação. Sou contra o obscurantismo. Mesmo fazendo filmes “obscuros”. Ou talvez por isso mesmo.

Tuesday, April 3, 2007

QONTROIS QONTROIS!

POSTA TURVA

POST
3 Abril 2007
O Típico Cenário de Interrogatório. Cine-Tuga de gabardina e óculos escuros regressa à sua função.

CINE-TUGA: (apontando um a lanterna) Então como está o processo de finalização do filme? Atrasado? ( sorriso desdentado)

Edgar Pêra (acagaçado) Bem…Atrasado atrasado, da nossa parte não. O melhor é falar com a produção…

CINE-TUGA: Estás a ser oclusivo.

Edgar Pêra (disfarçando) Quero dizer, o filme ainda não está com a qualidade final com que foi filmado. O Luís Branquinho (director de fotografia) ainda vai ter de fazer a supervisão da correcção de côr.

CINE-TUGA: Cor já não tem acento circunflexo.

Edgar Pêra: São arkaísmos de que não abdico.

CINE-TUGA: Não abdicas?

Quando ouvimos “Luís Branquinho” uma luz turva inunda o cenário. Os dois intervenientes são possuídos neste preciso momento pelo espírito do seu avô, Branquinho da Fonseca…

CINE-TUGA: Não abdicas? “Porque é que se recusa a seguir o caminho dos outros?”

Edgar Pêra: “Porque no caminho dos outros um homem está parado”

CINE-TUGA: “E um homem parado não serve para nada….”

Regressam às suas banalíssimas consciências, o interrogatório prossegue no cenário alagado pela luz amarelada.

CINE-TUGA: De que é que estávamos a falar?

Edgar Pêra (aproveitanto a desatenção) Das referências obscuras.

CINE-TUGA (perplexo): Quais?

Edgar Pêra: Durante a cena do pagamento por exemplo. Chamam para receber um tal António Madeira. E José Régio.

CINE-TUGA (ainda atónito) Madeira? É alguma referência ecológica?
À destruição da mata, à betonização do planeta?…Régio? referência à monarquia?

Edgar Pêra (bibliográfico): António Madeira, pseudónimo utilizado inicialmente por Branquinho da Fonseca. José Régio, co-fundador da revista Presença, fundamental na….

CINE-TUGA (apercebendo-se da manha): Deixa estar que eu faço um link. Podes dizer-me então em que fase se encontra Rio Turvo?

Edgar Pêra: Queres porrada é ? olha que há uma cena de violência no filme da qual te posso falar. O Sérgio Grilo faz de Sargento Bera. Não fui que inventei o nome já vem no conto, embora no conto o Sargento Bera não tem uma personalidade irrascível como o do filme….mas gostei muito da sonoridade do nome.

CINE-TUGA (engolindo o isco) : Mas nem sequer vem referido o nome durante o filme…

Edgar Pêra: Vem na ficha técnica. E até que me estás a dar uma ideia…

CINE-TUGA: Lá vais tu a atrasar o filme...

Edgar Pêra ( sorriso inocente) Eu?

CINE-TUGA: Sim!

Edgar Pêra: Não tens vergonha de não saber que era o José Régio? Já o Sargento Bera dizia que “o que interessa é a cultura geral” e que “todos os assuntos se relacionam…”

CINE-TUGA: Lá estás tu a desviar o assunto.

Edgar Pêra ( sorriso inocente) Eu?

CINE-TUGA: Sim!

A conversa entra em loop, a luz ainda se turva mais e mais…a voz do narrador enche a sala.
“E o rio turvo crescia. Crescia sempre….”

MOMENTOS DE CANSAÇO